Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação | São Luís

""Nhe’ẽ Porã é uma exposição necessária e urgente. Ela possibilita, àqueles que a visitam, aprofundar-se no universo dos povos originários brasileiros""

(Hugo Barreto)

São Luís, capital do Maranhão, é a terceira cidade brasileira a receber a exposição itinerante Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, sobre línguas indígenas do Brasil. Realizada pelo Museu da Língua Portuguesa, com correalização do Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM), a mostra conta com articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

A exposição ficará em cartaz no CCVM, de 10 de agosto a 22 de novembro de 2024, com uma série de novidades em relação à versão original, realizada na sede do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A curadoria é da artista indígena e mestre em Direitos Humanos Daiara Tukano, e a cocuradoria é da antropóloga Majoí Gongora. O Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo.    

Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação propõe um mergulho na história, memória e realidade atual das línguas dos povos indígenas do Brasil, através de objetos etnográficos, arqueológicos, instalações audiovisuais e obras de arte. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas.      

Uma das novidades da itinerância em São Luís são os objetos coletados em sítios arqueológicos do Maranhão que pertencem ao acervo do Centro de Pesquisa e História Natural e Arqueologia do Maranhão. Entre eles, uma vasilha de cerâmica de tradição tupi-guarani com decoração interna e dois machados semilunares. Haverá também artefatos dos acervos do Museu Casa de Nhozinho, como discos auriculares do povo Canela, e do próprio Centro Cultural Vale Maranhão, como maracás dos povos Guajajara, Gamela e Canela, buzinas dos povos Timbira, maruanã do povo Wayana e tembetá do povo Ka’apor.   

Nhe’ẽ Porã é uma exposição necessária e urgente. Ela possibilita, àqueles que a visitam, aprofundar-se no universo dos povos originários brasileiros: são mais de 267 povos, falantes de mais de 150 línguas diferentes. Ao articularmos e apoiarmos a realização da exposição junto ao Museu da Língua Portuguesa e à UNESCO, contribuímos para significar ainda mais a Década Internacional das Línguas Indígenas. A itinerância de Nhe’ẽ Porã dá sequência à circulação da exposição em 2024, possibilitando que mais pessoas conheçam sobre os povos originários e, assim, reflitam sobre diferentes formas de criar, viver e conviver”, diz o diretor presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto. 

“É com alegria que levamos a Nhe’ẽ Porã para o Centro Cultural Vale Maranhão, em São Luís. As itinerâncias possibilitam que mais gente tenha acesso à diversidade e à urgência de preservação de mais de uma centena de línguas indígenas faladas ainda hoje no Brasil. Cada espaço cultural que recebe este projeto tem inserido peças de acervos de museus locais, chamando a atenção para essas importantes coleções. O projeto celebra a Década Internacional das Línguas Indígenas, promovida pela Unesco, e destaca a perspectiva multilíngue do território brasileiro, focando também na influência dos povos originários no português do Brasil”, afirma Renata Motta, diretora executiva do Museu da Língua Portuguesa. 

Saiba mais sobre a exposição  
“Língua é pensamento, língua é espírito, língua é uma forma de ver o mundo e apreciar a vida”. É assim que a curadora Daiara Tukano descreve o ponto de partida de Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação. A imersão começa no próprio nome da mostra, que vem da língua Guarani Mbya: nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e porã quer dizer belo, bom. Juntos, os dois vocábulos significam “belas palavras”, “boas palavras” – ou seja, palavras sagradas que dão vida à experiência humana na terra.      

Contando com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas, a exposição tem cocuradoria da antropóloga Majoí Gongora; consultoria especial de Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas indígenas; em diálogo com a curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz.    

A mostra tem uma lógica circular guiada por um rio de palavras grafadas em diversas línguas indígenas que atravessa todo o espaço expositivo, conectando as salas em um ciclo contínuo. Em São Luís, a obra As onças e o tempo novo, de Tamikuã Txihi, dá as boas-vindas ao visitante, no hall de entrada. Seguindo o fluxo do rio, o público chega à área externa, onde se depara com uma floresta de línguas indígenas, feita em tecidos, representando a grande diversidade existente hoje no Brasil. Nessa floresta, o público poderá conhecer as famílias linguísticas e a sonoridade de várias línguas indígenas.      

A sala ao lado, “Língua é Memória”, traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século 16 até a contemporaneidade, problematizando o processo colonial que se autodeclara “civilizatório”. Neste ambiente, outras histórias serão contadas por meio de objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas, registros documentais, recursos audiovisuais, multimídia e mapas criados especialmente para a exposição com dados sobre a distribuição da população e das línguas indígenas pelo território brasileiro.    

As transformações das línguas indígenas são tratadas em conteúdos que exploram a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas. “Colocamos em debate o fato de que somos descritos como povos ágrafos, sem escrita, mas nossas pinturas também são escritas – só que não alfabéticas”, explica Daiara Tukano.      

Na terceira sala, o público conhecerá a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas, distribuídas em nichos temáticos, a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas. No espaço é possível ainda assistir a cenas da obra audiovisual Marcha dos Povos Indígenas, sob direção do cineasta Kamikia Kisêdjê.    

Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, uma atmosfera onírica introspectiva que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras – preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo.     

Itinerância
A exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação foi exibida originalmente no Museu da Língua Portuguesa. Em cartaz entre outubro de 2022 e abril de 2023 na instituição localizada na capital paulista, atraiu mais de 189 mil visitantes. 

Em fevereiro de 2024, a mostra iniciou a sua itinerância por outras cidades. A primeira a recebê-la foi Belém, capital paraense. Por lá, ficou em cartaz no Museu Paraense Emílio Goeldi até julho de 2024. 

Em março, entre os dias 14 e 26, uma versão do projeto foi exibida na sede da UNESCO em Paris. Na ocasião, houve, ainda, o ciclo de debates Línguas Indígenas na América do Sul: memória e transformação, no Collège de France, com organização do Laboratoire d’Anthropologie Socialie, do Collège de France, e do Museu da Língua Portuguesa. 

Entre abril e julho de 2024, Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação foi uma das exposições do Museu de Arte do Rio Janeiro (MAR). 

Parceiros da mostra itinerante em São Luís – MA 

A mostra itinerante Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação em São Luís conta com articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, e é correalizada pelo Centro Cultural Vale Maranhão. O projeto tem cooperação da UNESCO no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) e parceria do Instituto Socioambiental, Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – USP e Museu Nacional dos Povos Indígenas da FUNAI. São parceiros locais o Centro de Pesquisa e História Natural e Arqueologia do Maranhão e o Museu Casa de Nhozinho. A realização é do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, e do Ministério da Cultura – Governo Federal. 

 

Curiosidades

A exposição em São Luís incorpora objetos coletados em sítios arqueológicos do Maranhão.
Entre eles, uma vasilha de cerâmica de tradição tupi-guarani com decoração interna e dois machados semilunares.
Os acervos são do Centro de Pesquisa e História Natural e Arqueologia do Maranhão, Museu Casa de Nhozinho e do Centro Cultural Vale Maranhão
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