O ensino de Português a Estrangeiros: o Poder Econômico da nossa Língua – Um artigo de Susanna Florissi

A procura pelo aprendizado da Língua Portuguesa em sua vertente falada no Brasil talvez seja um dos melhores termômetros para os que entendem que uma Língua tem, como um de seus mais fortes atributos, um valor econômico.

Constatar que uma língua tem um valor econômico muitas vezes imensurável não é, para mim, uma novidade, mas analisar os fenômenos que acontecem com a nossa pode ser, sim, um despertar mercadológico para muitos.

A afirmação acima, que venho fazendo há anos, segue exemplos de estudos e análises feitos para outras línguas e também para a nossa, quando consideramos os importantes estudos e pesquisas feitos pelo Instituto Camões de Portugal, louvável instituição quando se considera a divulgação do nosso idioma pelo mundo. É com esses estudos que constatamos, por exemplo que, atualmente, o português é a 4ª. língua mais falada no mundo, com 261 milhões de falantes, ou seja, 3,7% da população mundial. Em 2050 estima-se que seremos 380 milhões de falantes, em sua maioria na África.

Comprovando ainda seu valor econômico, o português é língua oficial nos 9 Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP e em Macau (RPC). A presença do português representa 4% da riqueza do globo, ocupando 10,8 milhões de km2 em 7,25% da superfície da terra. O português é uma língua materna nos cinco continentes, fato igualado somente pelo inglês. É também a língua mais falada do hemisfério sul.

Resumidamente, como a língua é um ativo de um país, a Língua Portuguesa é estudada por ser um meio de comunicação internacional, por ser uma língua oficial de trabalho – inclusive em 32 organizações internacionais, por ser uma língua de ciência e, ainda, por ter a dimensão identitária de diásporas. Ainda segundo dados do Instituto Camões, temos a 5ª. língua com maior número de usuários na internet e a 3ª. língua mais utilizada no Facebook.

A Língua Portuguesa é estudada como língua estrangeira, como segunda língua, como língua de herança, como língua de interpretação de conferências e como língua para fins específicos de trabalho e de turismo. Há outras denominações, mas prefiro sempre me ater às três primeiras que menciono neste parágrafo.

Como já dito no início deste artigo, quero concentrar minhas reflexões no ensino de Português do Brasil a Estrangeiros. Por que afirmo que a procura pelo aprendizado da nossa língua talvez seja um dos melhores termômetros para entendermos seu posicionamento como poder econômico? Minha experiência com o ensino da Língua Portuguesa remonta ao início do processo de privatização de empresas públicas no Brasil. Nos anos 1980 e 1990 muitas empresas estrangeiras participaram desse processo e, como consequência, mais e mais estrangeiros vieram para o Brasil a trabalho. Muitos desses profissionais, de todas as partes do mundo, vieram acompanhados por suas famílias. Começou então a se desenvolver toda uma série de necessidades de serviços para atender esses expatriados. Professores de idiomas em geral começaram a se especializar para poder ensinar português, escolas internacionais e bilíngues abriram mais vagas, agências imobiliárias e de relocação se dedicaram à prestação de serviços a estrangeiros, editoras publicaram mais e mais livros didáticos para o ensino do nosso idioma e assim vai.

No início dos anos 2000, o Brasil entrou no radar mundial como um dos países emergentes mais promissores economicamente. Mais e mais empresas estrangeiras se interessaram em investir no nosso país. Profissionais das mais diversas áreas se prepararam para serem transferidos para o Brasil ou para vir para as mais diversas regiões do país em busca de oportunidades de abrir, aqui, seus próprios negócios. Se nas décadas de 1980 e 1990 era raro receber estrangeiros que já conhecessem algo do nosso idioma, na década de 2000 já havia um início de estudo de português antecedendo a chegada ao Brasil. Mais e mais universidades de todo o mundo começaram a oferecer o ensino do idioma, leitorados antes ocupados por professores de Portugal começaram a ser substituídos por professores do Brasil, brasileiros em geral eram procurados para ensinar português em institutos de idiomas ou como professores particulares, e empresas ofereciam treinamento em Língua Portuguesa a seus funcionários. Era um novo universo de oportunidades que se abria ao português.

Além disso, o Brasil viu sua imagem como destino turístico reforçada tanto pela melhora na infraestrutura turística quanto pela facilidade de divulgação proporcionada pelo aumento de possibilidades de comunicação internacional, pelas novas mídias e pela participação crescente do Brasil em eventos internacionais. Nossas universidades, já acostumadas a receber estudantes de outros países da América Latina tanto em alguns dos seus cursos de graduação quanto nos de pós-graduação, começaram a receber estudantes de outros continentes. Os programas de intercâmbio se intensificaram e mais e mais jovens buscaram o Brasil como diferencial para suas vivências internacionais e como pontos importantes a serem acrescentados a seus currículos. O exame CELPE-Bras, de proficiência em Língua Portuguesa, vertente brasileira, recebia milhares de inscrições.

Grandes momentos esportivos foram marcados para acontecer em nosso país e a atenção da mídia em geral voltou-se para regiões até então menos conhecidas internacionalmente. O Brasil foi o país homenageado em feiras como a do livro de Frankfurt, de Bogotá e tantas outras. Junto com nossa cultura divulgamos nossa língua e vice-versa.

Países como a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Itália, a Espanha, os Estados Unidos e a China podem nos servir de exemplo em nossa reflexão sobre o poder econômico de uma língua. É mensurável, em especial na Inglaterra, o valor econômico da língua inglesa tanto no que diz respeito à produção de materiais didáticos quanto na contabilidade relacionada a programas de intercâmbio, a toda a divulgação da cultura do país e aos negócios feitos nesse idioma. Mensurável também foi o domínio da língua francesa no passado e a crescente ascensão do mandarim nos dias de hoje.

Atesto, e reitero, que Professores de Português a Estrangeiros são verdadeiros Embaixadores da nossa língua e da nossa cultura. O termo ´Embaixador´ já traz em si a relação com os serviços voltados aos mercados em que a Economia de um país deve ser representada no Exterior. Reafirmo, ainda, a responsabilidade que é, para todos nós, assumirmos esse papel de Embaixadores que nos torna cada dia mais responsáveis pelo nosso crescimento como profissionais que devem, sempre, dedicar-se a representar o País no que Ele tem de maior excelência. E nisso, convenhamos, temos muito a mostrar e a comentar.

No início de novembro de 2016 o Brasil assumiu a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Urge façamos algo consistente para participarmos como atores no processo da divulgação do nosso idioma lá fora. É de vital importância também uma valorização da nossa língua dentro do nosso país, tanto no que diz respeito ao amor por aquela que nos dá identidade continental quanto pela que nos une aos nossos irmãos de Língua Portuguesa presentes em uma Comunidade que tem, além de tudo, ligações de coração e de mercado em diversos setores da cadeia produtiva de riqueza cultural e monetária.

REFERÊNCIAS

1. Palestra da senhora Ana Paula Laborinho, Presidente do Instituto Camões, em comemoração ao Dia Internacional da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, em 4/5/2016, no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, Brasil.
2. Reto, Luís; Potencial Económico da Língua Portuguesa, Texto Editores, 2012
3. FALEPORTUGUÊS.NING.COM – Comunidade Virtual

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